Abordagem do prurido da insuficiência renal crônica na Atenção Primária à Saúde

Alessandro da Silva Scholze

Resumo


Introdução: A abordagem integral e longitudinal deve ser orientada pelas prioridades estabelecidas com a pessoa cuidada, especialmente diante de doenças crônicas nas quais o surgimento de sintomas novos pode indicar mudanças no quadro até então estabelecido, além do simples tratamento sintomático.

Objetivos: Descrevemos aqui o caso de A.F.R., feminina, 90 anos, parda, viúva, do lar, pensionista, que morava sozinha e era acompanhada pela ESF em visitas domiciliares de diferentes membros da equipe, há sete anos.

Metodologia ou Descrição da Experiência: Em tratamento por HAS controlada com medicação, diabetes compensada com medidas de estilo de vida e rinite alérgica. Iniciou com queixa de prurido generalizado, sem alterações cutâneas, que foi inicialmente manejado com orientação para cuidados com a pele e uso de hidratante, além de anti-histamínico oral em uso pela rinite. A avaliação laboratorial indicou Insuficiência Renal Crônica (IRC) Estágio IV. A seguir, a contrarreferência da nefrologia orientou manutenção do tratamento e prescrição de eritropoietina pela anemia, sem indicação de terapia substitutiva renal. Diante da persistência da queixa de prurido, com interferência no sono de A.F.R., o caso foi discutido pela equipe.

Resultados: A revisão de literatura mostrou que o prurido atinge até 49% das pessoas com IRC antes da hemodiálise. Há tratamentos tópicos, físicos, sistêmicos e relacionados à diálise, mas sem benefício em até 80% dos casos. Os estudos clínicos com poucos sujeitos não estabeleceram um padrão de tratamento, sugerindo que, além das opções já empregadas, o uso de capsaicina tópica, montelucaste ou doxepina teriam maior efetividade. Pela facilidade posológica e custo, optou-se por doxepina 12,5mg qid, também com efeitos favoráveis sobre a qualidade do sono, cuja piora parece estar relacionada a uma maior mortalidade no grupo de pessoas com IRC associada a prurido.

Conclusão ou Hipóteses: Após a introdução da doxepina, A.F.R. deixou de se queixar espontaneamente do prurido e relatou melhora do sono. Houve recidiva da queixa nos momentos em que ela descontinuou a doxepina, apesar da manutenção do anti-histamínico e da hidratação da pele. Assim, consideramos que o uso desta medicação deve ser considerado nas pessoas com prurido associado à IRC.


Palavras-chave


Insuficiência Renal Crônica; Prurido; Atenção Primária à Saúde

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